A jornada do cérebro entre raciocínio, sabedoria e o tempo.
Passando os olhos sobre o Threads, me deparo com um belo texto lido pela Ana Paula Padrão sobre a Inteligência e suas diferentes fases ao longo da vida.
Interessada que sou, fui atrás da pesquisa mencionada – e para minha surpresa, encontrei vários artigos mencionando o mesmo estudo, conduzido em 2015 e, curiosamente, redescoberto com força agora, 10 anos depois.
Isso me fez pensar: tudo é mesmo uma questão de tempo. O velho e o novo sempre se encontram, despertando reflexões, gerando conhecimento e atualizando a forma como lemos o mundo – e a nós mesmos.
Mas afinal, em que idade somos mais inteligentes?
A resposta – como a própria mente humana – é mais complexa do que a gente pensa.
Vamos começar então com uma pesquisa conduzida pelo psicólogo Joshua Hartshorne, especialista em cognição que reuniu dados de mais de 48 mil pessoas para responder a essa questão central.
Os resultados oferecem alguns indicadores importantes que você pode conferir aqui e agora comigo.
Segundo o estudo, nossa velocidade de processamento de informações, atinge seu auge por volta dos 18 ou 19 anos. Nessa fase da vida o cérebro está em franco desenvolvimento – avançando de forma visível, acelerada e consistente – especialmente o córtex pré-frontal, responsável por tomada de decisões, planejamento, controle emocional e raciocínio complexo.
Já memória de curto prazo, aquela que usamos para lembrar de algo por pouco tempo, se mantém estável entre os 25 e 35 anos – e começa a diminuir lentamente após esse tempo.
O que talvez você não saiba – e vou te contar – é que a capacidade para reconhecer as emoções das outras pessoas, se aperfeiçoa com o tempo, e atinge o seu auge entre 40 e 50 anos. Isso talvez explique a nossa dificuldade em lidar com os relacionamentos… praticamente a vida inteira.
E tem mais: algumas habilidades não apenas se mantêm com o tempo – elas podem até melhorar. Em testes de vocabulário, pessoas entre 65 e 75 anos superaram outras faixas etárias, mostrando que “certas palavras” só aparecem mesmo muito tempo depois. É preciso persistir e ter paciência com jeitinho de falar de cada um.
E porque isso acontece, você pode estar se perguntando:
O cérebro humano não amadurece de maneira uniforme. Está aí a razão para o declínio de algumas habilidades cognitivas, com o tempo, e aprimoramento de outras.
Essa variação ocorre porque a inteligência é formada por diferentes capacidades. Duas delas foram definidas pelo psicólogo Raymond Cattell, na década de 1960, como inteligência fluida e inteligência cristalizada.
A inteligência fluida tem a ver com a capacidade de raciocínio rápido, solução de problemas novos, formação e reconhecimento de conceitos – pouco dependente de conhecimentos previamente adquiridos. Ela está vinculada ao córtex pré-frontal, essencial para o pensamento lógico e decisões estratégicas.
Já a inteligência cristalizada está relacionada ao conhecimento acumulado ao longo da vida — como vocabulário, vivências e habilidades práticas — e envolve principalmente áreas cerebrais como os lobos temporal e parietal, responsáveis pelo armazenamento e acesso a essas informações. É um tipo de inteligência decisiva na tomada de decisões baseadas na experiência, e tende a crescer com o tempo, à medida que ampliamos nosso repertório cultural, educacional e social.
Compreender como as habilidades cognitivas evoluem ao longo da vida é essencial para aumentar o nosso potencial em cada fase. Enquanto a inteligência cristalizada se beneficia de educação contínua, leitura, interações sociais e experiências diversificadas, a inteligência fluida pode ser estimulada por meio de exercícios mentais, desafios cognitivos e atividades físicas que favorecem a plasticidade cerebral.
Essa é a ideia que ganhou força há 10 anos atrás e ecoa nos tempos atuais. Não existe uma idade única para se alcançar picos da inteligência. Cada etapa da vida tem seus encantos e oferece oportunidades únicas para o florescimento de diferentes competências — da agilidade lógica da juventude à sabedoria acumulada da maturidade.
Ao reconhecer e nutrir essas múltiplas formas de saber, cada pessoa pode se destacar à sua maneira, em qualquer momento da vida.
Afinal não há uma única curva ascendente no gráfico da mente humana – há múltiplos picos, diferentes formas de genialidade e um constante convite à expansão do potencial intelectual.
Referências:
HARTSHORNE, Joshua K.; GERMINE, Laura T. When does cognitive functioning peak? The asynchronous rise and fall of different cognitive abilities across the life span. Psychological Science, v. 26, n. 4, p. 433–443, 2015. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/0956797614567339
SCHELINI, Patrícia Waltz. Teoria das inteligências fluida e cristalizada: início e evolução. Estudos de Psicologia (Natal), v. 11, n. 3, p. 323–332, set./dez. 2006. Disponível em: https://doi.org/10.1590/S1413-294X2006000300010
Julho/2025.