Angela Soares

Vou contar uma história. Você pode tirar suas conclusões ao longo do caminho, mas no final, podemos refletir juntos.

A história tem 27 páginas, mas aqui está um resumo. Havia um homem profundamente amargurado. Vivia desolado, sem sentido, sem graça, sem entusiasmo. Não via razão para continuar — e, após muito tempo nessa condição, decidiu abreviar sua existência. Numa noite, seguiu para casa com esse objetivo.

No caminho, uma pessoa pediu ajuda para socorrer alguém em apuros. Mas ele, fechado para o mundo, empurrou-a e seguiu decidido, sem querer saber de nada nem de ninguém. Ao chegar em casa, sentou-se numa poltrona, pegou uma arma e a apoiou no peito. Então começou a pensar sobre a vida… e adormeceu.

Nesse sono, ele sonhou com uma criatura transcendente que o carregava para o alto — muito alto — até deixá-lo numa estrela, num lugar desconhecido. Lá, conheceu pessoas alegres, generosas, serenas. Essas pessoas o acolheram com ternura e pareciam verdadeiramente felizes. Todos os dias, o tratavam bem, com interesse sincero e afeto.

O homem, intrigado, começou a buscar respostas. Que lugar era aquele? Como poderia existir tanta paz e harmonia? Decidiu conversar com os habitantes para entender o segredo daquele mundo. Um deles se dispôs a explicar… mas foi interrompido por outro, que queria dar sua própria versão. Os dois entraram em conflito. Um terceiro surgiu, desagradando os dois anteriores. Logo, mais pessoas se envolveram. A harmonia se perdeu. O caos se instalou.

Nesse momento, o homem acordou.

Assustado, refletiu sobre o que sonhara. Teve um insight profundo: percebeu que ele havia destruído aquele mundo pacífico. Foi o responsável por semear o conflito, a tristeza, a desordem. E então pensou: “Se num lugar tão perfeito eu causei tanta desgraça em pouco tempo… imagine aqui, neste mundo onde vivo desde que nasci?”

Nesse momento foi como se uma luz acendesse dentro dele: talvez ele fosse diretamente responsável pela infelicidade ao seu redor. Se há dor no mundo, talvez ele tenha ajudado a espalhá-la.

Com isso, decidiu procurar a pessoa que havia empurrado na rua — antes de tentar dar cabo da própria vida.

Esse conto foi escrito por Fiódor Dostoiévski em 1877 e continua atual. Ele nos ajuda a pensar sobre o sentido da vida — e, principalmente, sobre a nossa responsabilidade por ela.

Temos o hábito de reclamar: “Isso aqui é uma droga, só tem bandido, nada funciona, tudo está errado…” Mas será que somos apenas espectadores da desgraça? Ou somos parte dela?

Dostoiévski nos oferece uma primeira lição: não somos apenas observadores do caos — somos também causadores. O mundo é feito de micromundos. Fique atento ao seu. O que você vem semeando?

A segunda lição é ainda mais necessária: precisamos nos implicar na vida. Se está ruim, temos parte nisso. E se queremos melhorar, precisamos agir.

Uma vida com sentido depende da nossa participação. Pede envolvimento, atitude e a coragem de transformar o mundo ao nosso redor. Se você não consegue fazer isso sozinho, conte comigo. Talvez eu possa te pegar pela mão e tornar essa caminhada menos difícil.

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