Por muito tempo achei que a ausência é falta. E lastimava, ignorante, a falta. Hoje não a lastimo. Não há falta na ausência…. Drummond.
A casa estava repleta antes mesmo de chegarmos e ela sair. Era sábado, noite de possíveis encontros.
Entre chegadas e partidas nos abraçamos. Troca de olhares afetuosos e palavras sinceras. Antes de sair ela disse: “estou indo buscar tia Gina”, e, naquele instante fui capturada pelo imponderável, pela impressão do que parece não fazer sentido, sou dessas.
A reunião começou e me senti privilegiada por estar ali naquele lugar de acolhimento, amizade e entrega segura, mas ainda havia um espaço vazio, o que ela deixara há pouco para buscar quem também faltaria, caso ela não fosse.
Foi em sua volta, pouco antes do final, que me dei conta: ela esteve entre nós o tempo todo!! Nunca a expressão poética presença na ausência fez tanto sentido e me preencheu por inteiro.
Quando finalmente chegou, de onde parece nunca ter saído, suas palavras brotaram com ternura, nascendo da vulnerabilidade, calando fundo a minha alma dizendo: “faz com que o solitário viva em família”.
Nada naquela noite chuvosa e instável falou tão profundamente ao meu coração do que a sua ausência cheia de presença e seu gesto generoso ao acolher a tia Gina.
Toda essa ambiência revelou o verdadeiro significado da conexão que nasce do cuidado e do serviço em amor. Foi então que percebi: a falta não diminuiu a experiência, ela a tornou essencial.
A amizade e os relacionamentos genuínos também se constroem sobre a aceitação das imperfeições. Laços verdadeiros não são quebrados pela falta, mas fortalecidos pela capacidade de esperar e superar seja o que for, juntos.